quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Insegura, mergulha na escrita de um poema no escuro, sem pensar o que sairá nos últimos versos. Sem ao menos saber se será um haikai ou um soneto. Se será um doce Drummond ou um denso-intenso Florbela. Dúvidas... Ela ainda não sabe o que quer escrever. É apenas guiada pela ânsia do ato. É uma tentativa, como jamais fez antes. Escrever é o nível máximo de exposição que alguém pode chegar. São suas intimidades e fragilidades expostas e, por mais que se tente comedir, é em vão. Se erra, apaga. Não tão simples assim, sabe-se que os vestígios ainda permanecem no papel como as cicatrizes no peito. A borracha apenas ameniza os erros.
O incômodo do que os outros vão pensar sobre o que está escrito permanece, é impossível fugir dos pensamentos alheios. Mas ela sabe que, ao final, o seu embate é com as palavras. Quais as escolhas? O cuidado com elas é crucial e precioso. Ela pensa no quanto isso tem o poder de lhe fazer bem ou mal. Do quanto ela já se sentiu acariciada ou enganada por causa delas. "As palavras saem quase sem querer / Rezam por nós dois / Tome conta do que vai dizer." Ela realmente acredita que muita gente deveria cantarolar esses versos da Vanessa da Mata como prece ao outro sempre que começar qualquer envolvimento. Porque as tais cicatrizes no peito viram ferida aberta no exato momento em que não se pensa em como vão receber o você quer dizer.
Depois de tantos pensamentos sobre o que é realmente importante para construir a si própria no papel, questiona-se: vale a pena continuar na inspiração? Vale, porque é inevitável. Para que fugir dos pensamentos, ações, fatos e inspirações se a vida vai acontecer do mesmo jeito, quer você queira ou não? Talvez ela tenha medo de se conhecer e se ver inteira, com todos os seus defeitos. Medo de se mostrar a algo que ela tanto respeita... Medo de frustrar-se. É nítido seu recuo diante disso. Ela sabe que escrever é ato de entrega e doer faz parte de tal decisão. Se já começou, é melhor ir até o derradeiro verso e terminar com a mesma intensidade do princípio. Pode ser que ela releia o poema e veja que não deu certo, que não foi bonito como pensou. Rasgar e escrever outro não é nada fácil. Se não vingar, o jeito vai ser passar a página e escrever na próxima outro poema, sem vestígios do anterior. Entretanto, ela sempre vai guardar aquele pedaço de papel como sendo o primeiro de todos, a primeira tentativa, de importância inigualável. Porque só há uma certeza diante de todas essas dúvidas: ainda que possam surgir poemas melhores e mais elaborados depois, ela sabe que aquele vai ser sempre o prefácio da sua biografia.

Um comentário:

  1. "As palavras saem quase sem querer / Rezam por nós dois / Tome conta do que vai dizer."

    já é meu mantra!viva Vanessa da Mata!
    e viva vc e esse blogue também, doce e verdadeiro como tem que ser a vida cotidiana.

    um beijão!^^

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