Cá estou eu nos vinte e poucos.
Esses dias faço vinte e quatro. A intenção aqui não é dramatizar idade ou ser
nostálgica, mas não dá pra pensar que há pouco eu estava ainda me acostumando
com a saída da adolescência, a entrar numa faculdade e ter o mínimo de
responsabilidade. Eu era quase-adulta aos dezoito. Hoje, segundo estudos
psicológicos, sou adulta completa. Mas como, se ainda me sinto uma espécie de
quase-tudo-quase-nada que tornam tudo bem menos compreensível que quando tinha aquela
idade? Lá as minhas poucas certezas eram tudo o que havia. Hoje vivo mergulhada
em dúvidas e cada vez menos preparada para o que vem pela frente.
E o que é que vem pela frente? A
gente encaminha tudo, planeja e traça metas porque todos dizem que ”quando
chegar lá”, a vida vai lhe cobrar. Quando e o que cobrar? Eu queria que fosse somente
minha paz de espírito, que me obrigassem a me sentir bem, a ter um amor, a
cuidar de quem amo, a realizar meus sonhos. Sempre achei que era isso mesmo.
Mas nada. O que se quer é que eu
apenas pareça isso tudo, ainda que eu não seja realmente. A palavra é
“satisfação”. E não é no sentido de ter prazer, mas no de ter que dar
explicações do que faz e deixa de fazer. Daí você quer revolucionar,
anarquizar, pirar e viver do seu jeito sem dar satisfação pra ninguém porque
você não acha que ser-alguém é o que os outros querem de você, mas o que você
quis mesmo, o que você construiu. E é o certo, você sabe que não pensa errado. Mas
para, tranquiliza, vê que já entrou no sistema e o que lhe faz bem, por ora, é
continuar mesmo, é passar pelo que não acredita para chegar no que mais deseja,
ainda que nem todos confiem que você consiga, ainda que haja outros que acreditam
tanto ao pondo de você sentir um medo danado de não alcançar a expectativa. E
expectativa era outra coisa que eu queria falar, mas deixa pra outra hora.
O que eu tenho hoje é bem menos
que as certezas dos meus dezoito e bem mais que as responsabilidades daquele
tempo. Viver no quase é um tanto angustiante para quem tem a pressa dos que não
querem muito, só o que lhe traz o bem. E o que eu queria dizer mesmo hoje são
palavras do Guimarães Rosa, lidas há tanto tempo, mas que ecoam na minha vida
como um mantra desde a primeira vez, dando significado às minhas preocupações
juvenis, às expectativas de construir o todo-dia:
"Queria entender do medo e
da coragem, e da gã que empurra a gente pra fazer tantos atos, dar corpo ao
suceder. O que induz a gente para mais ações estranhas, é que a gente está
pertinho do que é nosso, por direito, e não sabe, não sabe, não sabe!"
Um vinte e quatro feliz para mim,
do meu jeito, com as minhas dores e imprecisões, com meus ganhos e minhas
perdas.